Aprendendo a sambar.
Dos dias em que eu ficava sozinho em casa, eu pensava que nada acontecia. De certa forma eu até poderia considerar ser verdade, mas no frigir dos ovos as coisas aconteciam de maneiras diversas. Diversas na minha imagem, diversas nos meus sonhos. Diversas na realidade. Afinal de contas eu não estava no centro nem na periferia dos fatos. Eu estava onde deveria estar (pelo menos eu achava isso).
Saí de casa cedo, sem pensar para onde iria. Não queria pensar em nada, não sabia que horas voltaria. Beber? Acho que não. Não naquela noite, eu não me sentia bento para isso. Eu queria sambar. É. Sambar! E nem era época de carnaval. Mas por acaso para sambar precisa ter época?
Imaginei alguns lugares aos quais eu poderia ir, porém fiquei completamente indeciso. Eu só queria sambar.
O relógio batia vinte horas. Em frente da minha casa tinha um bar que costuma ficar cheio até às vinte e três. Era o “Bar do Portuga”. Toda cidade grande tem o melhor de alguma coisa. O “Bar do Portuga” tinha o melhor bolinho de bacalhau de Belo Horizonte. Para mim o bolinho nem era tão importante. Lá tinha o melhor papo da cidade.
Tinha – falo no passado porque faz tempo não apareço por lá – três sujeitos que considero até hoje. João, Zé Luis e Noel. Três figuras de tirar o chapéu. Em cinco anos de faculdade aprendi muito com eles também.
Pois é, mas o fato era que eu queria sambar. Sambar! Sabe aquela vontade de ouvir a música que mexe com você? Que te faz dançar sem saber dançar? Então, eu estava com aquela vontade. Saí de casa, João, Zé Luis e Noel estavam no “Portuga”, tomando aquela cerveja bem gelada. Cheguei, pedi um copo e me infiltrei na conversa. O Noel era quase sempre do contra, adorava contrariar, mas eu, naquele dia, nem queria dar corda. Meus pensamentos estavam em outro lugar, numa roda de samba.
E logo eu, que não era chegado em dançar (até hoje não sei dançar); mas fazer o quê? Nessa noite eu queria dançar. Eu queria sambar! Mesmo que meu sambar fosse mexer o corpo e levantar os dedos.
“Preparei uma roda de samba só pra ele, mas se ele não sambar, isso é problema dele”. Quer música melhor para quem não sabe sambar? Sambei! Mesmo sozinho, sambei. Foi problema só meu. Sem saber eu sambei. Sambei sem saber. Mesmo estando sozinho, não me senti só. Tanta gente desconhecida num mesmo balanço, no mesmo samba. Mesma idade, idade diferente. Ninguém se importava. Isso era problema de quem não sabia viver. O meu samba é nosso samba, o seu samba é nosso samba. De quem é o samba, se não for de quem quer sambar?
Eu queria, tanta gente também. De quem é o samba se não for de quem quer fazer da vida uma alegria sem fim?
Saí de casa para sambar. Saí de casa para viver. Cansei de sair por aí sem saber o que ser. Meu samba fez com que eu me sentisse melhor, me fez sentir que sou alguém. Fui alguém melhor durante certo tempo, o tempo exato do momento que durou o samba. O meu samba sem cadência. E meu samba não foi o samba de uma nota só. O meu samba durou e permanece até hoje ecoando naquelas noites em que eu tento aprender a sambar, a viver.
Saí de casa cedo, sem pensar para onde iria. Não queria pensar em nada, não sabia que horas voltaria. Beber? Acho que não. Não naquela noite, eu não me sentia bento para isso. Eu queria sambar. É. Sambar! E nem era época de carnaval. Mas por acaso para sambar precisa ter época?
Imaginei alguns lugares aos quais eu poderia ir, porém fiquei completamente indeciso. Eu só queria sambar.
O relógio batia vinte horas. Em frente da minha casa tinha um bar que costuma ficar cheio até às vinte e três. Era o “Bar do Portuga”. Toda cidade grande tem o melhor de alguma coisa. O “Bar do Portuga” tinha o melhor bolinho de bacalhau de Belo Horizonte. Para mim o bolinho nem era tão importante. Lá tinha o melhor papo da cidade.
Tinha – falo no passado porque faz tempo não apareço por lá – três sujeitos que considero até hoje. João, Zé Luis e Noel. Três figuras de tirar o chapéu. Em cinco anos de faculdade aprendi muito com eles também.
Pois é, mas o fato era que eu queria sambar. Sambar! Sabe aquela vontade de ouvir a música que mexe com você? Que te faz dançar sem saber dançar? Então, eu estava com aquela vontade. Saí de casa, João, Zé Luis e Noel estavam no “Portuga”, tomando aquela cerveja bem gelada. Cheguei, pedi um copo e me infiltrei na conversa. O Noel era quase sempre do contra, adorava contrariar, mas eu, naquele dia, nem queria dar corda. Meus pensamentos estavam em outro lugar, numa roda de samba.
E logo eu, que não era chegado em dançar (até hoje não sei dançar); mas fazer o quê? Nessa noite eu queria dançar. Eu queria sambar! Mesmo que meu sambar fosse mexer o corpo e levantar os dedos.
“Preparei uma roda de samba só pra ele, mas se ele não sambar, isso é problema dele”. Quer música melhor para quem não sabe sambar? Sambei! Mesmo sozinho, sambei. Foi problema só meu. Sem saber eu sambei. Sambei sem saber. Mesmo estando sozinho, não me senti só. Tanta gente desconhecida num mesmo balanço, no mesmo samba. Mesma idade, idade diferente. Ninguém se importava. Isso era problema de quem não sabia viver. O meu samba é nosso samba, o seu samba é nosso samba. De quem é o samba, se não for de quem quer sambar?
Eu queria, tanta gente também. De quem é o samba se não for de quem quer fazer da vida uma alegria sem fim?
Saí de casa para sambar. Saí de casa para viver. Cansei de sair por aí sem saber o que ser. Meu samba fez com que eu me sentisse melhor, me fez sentir que sou alguém. Fui alguém melhor durante certo tempo, o tempo exato do momento que durou o samba. O meu samba sem cadência. E meu samba não foi o samba de uma nota só. O meu samba durou e permanece até hoje ecoando naquelas noites em que eu tento aprender a sambar, a viver.
2 Comments:
Cansa ter na cabeça como é que se vive, onde é que se vive, quando é que se vive.
Bom mesmo é sair e sambar sem saber, só por querer.
Ô Abílio. Mas isso dá uma música tão boa. Tentaí.
Beijo!
oi abilio
passei aqui para ler os seus textos
e achei eles muito bons
sabe apesar de eu naum conhecer muitos textos,poemas...
mais achei super legal...
muito mais que um texto,muito mais que um poema...
continua escrevendo sempre !
bjos
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