segunda-feira, julho 04, 2005

Homem desperto

Homem desperto

Durante muito tempo, costumava deitar-me tarde. Tombava o rosto no travesseiro como quem se apóia na própria infância. Assim permanecia, desperto por instantes. Pensamentos pairando como véu sobre meus olhos, como que se eu estivesse lendo a mim mesmo. Eu, atônito de encontrar em derredor uma obscuridade suave e repousante para os olhos e talvez ainda mais para o espírito; o qual se apresentava como algo sem causa nem efeito. E por que eu deveria me importar?
Sem confessar-me, adormeci. E do meu sono uma mulher nascia. Oriunda do prazer que eu estava prestes a experimentar. Despertei. Traços de uma mulher que conheço em vida e a qual me dedico inteiramente a encontrá-la, tal como os que empreendem uma viagem para sentir com os próprios olhos uma desejada cidade e que se podem gozar, numa coisa real, o encanto da coisa sonhada.
Pouco a pouco sua lembrança se cristaliza, anestesiando meu ser com a pura vontade de encontrar a filha do meu sonho. Sem dúvida que eu estava agora bem desperto; o bom anjo da certeza imobilizara tudo ao redor de mim. Deitara-me sob a seda de seus cabelos, cobrira-me com o calor e perfume seus.
Desperto, eu agora vivia um sonho.