quarta-feira, julho 13, 2005

Noite de Carnaval

Gabriel caminhava sozinho pela rua, era tarde da noite, o céu abandonado pelas estrelas e a lua reinando solitária, iluminando o infinito cobertor negro. Pelas ruas os letreiros luminosos do comércio diminuíam a beleza da visão daquele céu de um astro só. Era carnaval e Gabriel caminhava sem pensar nisso. Apenas um bar aberto na cidade semi-fantasma nessa época do ano. E era exatamente para lá que ele seguia. Nesse bar estariam todos os órfãos de carnaval da região. Ele poderia ter viajado, porém a falta de grana, de folga no trabalho e a desanimação o prenderam na sua terra natal. Já há algum tempo que ele não curtia mais essa festa popular, nem pela farra com a turma.
Uma calça jeans, tênis e uma camisa branca de algodão. No bolso apenas um maço de cigarros e uma triste e solitária nota de cinco reais. Sem compromisso com nada que não fosse ele mesmo, se sentia meio que perdido, andando devagar, mãos no bolso e um cigarro atrás da orelha. Pela rua onde caminhava, apenas poucos carros estacionados e um casal se beijando ardentemente, parecendo querendo transar ali mesmo. Gabriel não conseguiu tirar os olhos daquela cena até que percebeu estar sendo encarado de volta, maliciosamente pela garota. Desviou o olhar, seguiu com seus passos lentos, mas não suportou a curiosidade de uma última olhadela. Continuou sua soturna caminhada até ao bar. O lugar era bem conhecido na cidade, lá se encontravam os admiradores do rock and roll. E era terminantemente proibido outro ritmo que não fosse o bom e velho rock. Porsters dos clássicos do gênero se misturavam aos novos cantores e novas bandas, assim como aos alternativos e desconhecidos também. Da decoração também faziam parte cartazes de filmes variados. Para todos que ali estavam parecia não existir carnaval. O ambiente era pouco iluminado, só se via totalmente as pessoas aproximando-se bem delas; havia um balcão extenso, o salão era razoável e havia nele algumas mesas, um espaço para se dançar e um pequeno palco para as apresentações e performances que ocorriam de vez em quando; num dos cantos, uma junkie box, mas daquelas bem antigas e que foi adaptada para os dias de hoje.
Ao som de “Whole Lotta Love”, do Led Zeppelin, Gabriel botou os pés dentro do bar. Já lá dentro, procurou um local vazio no balcão, que era sua preferência mesmo. Também não poderia ir para uma mesa, pois estavam todas ocupadas. Foi sentar-se na última cadeira do balcão, bem próximo da máquina de música. Cumprimentou Geraldo, o garçom, tirou o maço de cigarros do bolso e pediu uma dose de whisky.
-Sem gelo, por favor, Geraldo.
Pegou o cigarro que estava atrás da orelha e o acendeu. Deu o primeiro gole na sua bebida e ouviu os primeiros acordes de “Alabama Song” dos Doors, uma de suas bandas preferidas. Começou então a cantarolar a música juntamente com Jim Morrison e já se sentia até mesmo mais animado. Somente aquele bar, com suas músicas, para tirar o desânimo do seu corpo. Olhou então para seu copo de whisky e começou a pensar que seria aquela sua única dose, a única que seu dinheiro poderia pagar. E o cigarro também estava acabando, só havia mais três dentro do maço. Outro gole, mais um trago. Quando estava apagando o cigarro no cinzeiro sentiu alguém tocando=lhe o ombro, por trás. Quando se virou, não pôde acreditar no que estava vendo. Era ela... mas seria possível? Era realmente ela? Quem ele nunca imaginava ver novamente?!?! Já havia se passado dois anos e nenhuma notícia desde que ela o abandonou. Sem motivo, sem explicação alguma.

To be continued

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Eu já li essa crônica..
A melhor de todas.. pena que não cabe tudo num post só..

Bjos amigo :**************

03:10  

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