sexta-feira, julho 15, 2005

Noite de Carnaval - Parte II

“Oi, tudo bem?” – disse ela. E sem conseguir se mover, nem ao menos piscar, ele nada respondeu e continuou a fitá-la.
“Posso me sentar?” – Gabriel apenas acenou que sim com a cabeça. “Me paga uma bebida?” – pediu ela.
“Não.” – foi o que ele respondeu. Ela o encarou.
“Não tenho dinheiro.” – Gabriel disse.
“Pode deixar, eu mesma pago. Garçom, quero o mesmo que ele está bebendo, por favor.”
Gabriel achou estranho, ela não era de beber e quando o fazia eram coquetéis fracos e suaves e agora iria tomar uma dose de whisky e sem gelo?! Ele se levantou e ela foi logo perguntando:
“Onde você vai?”
“Ao banheiro.” – ele respondeu.
“Vai voltar?” – ela perguntou.
“Minha bebida ainda não acabou.”
Gabriel chegou ao banheiro e começou a xingar todos os palavrões imagináveis e outros que inventava na hora. Ele também Daniela até a quinta geração. Resolveu então jogar água no rosto e se acalmar. “Nem mais dinheiro para encher a cara e esquecer isso tudo eu tenho! Será que eu volto para lá, ou vou embora escondido sem nada falar?” Resolveu voltar, quem sabe ela se tocou e foi embora. Saiu do banheiro e a viu no mesmo lugar.
“Que merda!” – pensou ele.
Chegando ao balcão ele notou que ela já havia tomado toda sua bebida. Ficou imaginando o que se passava pela cabeça dela, o que ela estaria fazendo ali, na sua cidade, no seu bar. Ela, que sempre gostou de carnaval, de viajar nessa época do ano para os lugares onde a festa era sempre maior e principalmente para praia. Gabriel apenas pensou e nada perguntou. Sentou-se no seu lugar novamente, pegou seu whisky e virou tudo num só gole. Acendeu outro cigarro.
“Fumando?” – ela perguntou.
“Já faz algum tempo.” – foi o que ele disse.
“Como vai você?”
Essa perguntou o deixou um tanto quanto nervoso. Sua vontade era se levantar e dizer na cara dela tudo o que sentia. Pensou em dizer a ela que desde que o abandonara ele se sentia uma merda, perdeu o emprego, mal conseguiu acabar a faculdade, teve que voltar a morar com os pais, ficou sem dinheiro e perdeu o interesse em qualquer tipo de compromisso, sem contar no azedume que se tornou. O sangue lhe subia à cabeça.
“Estou bem.” –foi a única coisa que conseguiu dizer.
“Você parece meio amargo, não gostou de me ver aqui?”
“Isso não tem importância.” –disse ele.
“Se quiser, vou-me embora.”
“Faça o que quiser.”
“O que eu quiser?”
“Você é livre.”
Ele deu de ombros e pensou em pedir outra dose, a vontade era enorme, porém se lembrou da falta de grana. Mas ela tinha dinheiro. Pedir a ela seria demais. Mas e daí? Qual o problema? Gabriel virou-se para ela e pediu:
“Me paga uma bebida?”
“Pode pedir.”
“Um cigarro também?”
“Claro.”
“Geraldo, vê para mim outro whisky e um maço de marlboro.”
Gabriel pegou o cigarro, enfiou no bolso, segurou o copo de whisky e virou a dose toda de uma só vez. Estava decidido a ir embora naquele momento.


To be continued