quinta-feira, setembro 15, 2005

Carta

Tristanville, 15 de setembro de 2005.

Querida Joice,


Eu não tenho a menor idéia sobre o que se passa pela minha cabeça. Tudo parece estar bem e no minuto seguinte não está.
Um tormento tangível retumba feito trovões em minha mente. Encho copos e mais copos de lágrimas incessantes e inexplicavelmente melancólicas.sinto meu coração saltitando ao mesmo tempo em que parece vazio e sombriamente calado. Um festival de tons de cinza perambulam pela minha vistaembaçada, que procura desesperadamente por uma alegria verde.
Minha vida se resume a quatro paredes sem janelas e com apenas uma porta sem chaves. Quatro paredes brancas onde desenhos diversos surgem e desaparecem na mesma velocidade de uma piscadela. Dependendo do desenho tento ao máximo manter meus olhos abertos; ou então pisco tão rápido que alguém poderia pensar ser um cacoete meu.
Será que um sonho, depois de sonhado, acomodará mudanças na vida do sonhoador? Penso que se não... o sonho não terá valido à pena. Mas não terá sido perca de tempo também.
Tudo pode se resumir nas escolhas que fazemos. E eu escolhi não buscar uma ilusão externa a mim mesmo, pois a escolha de outrem ou do sobrenatural é sempre enfraquecedora e sempre me torna menos do que sou. E eu amo tudo aquilo que me torna mais do que sou.
Mas eu não tenho a menor idéia sobre o que se passa pela minha cabeça. Porém tenho aprendido que uma vida mentirosa é uma morte viva e que a morte perde seu terror quando se morre depois consumida a própria vida.
Eu me sinto imóvel nos bastidores de uma cena inacabada. Perdido entre diálogos de uma peça mal escrita.
Tudo é ainda agradavelmente fervoroso para mim, porém a magia do desconhecido consome uma parte considerável de mim. Tudo parece estar bem e no minuto seguinte não está.
Então eu simplesmente fecho as cortinas de uma janela inexistente.

Beijos,

Diego