Festa da nobreza (Abílio Queiroz - 12/06/1991)
Perdida agora a indecência pura das mentiras mal contadas, fez-se do fogo eloqüente da vela, que teima em queimar, o brilho solitário da sala de jantar.
Ensandecida a mente brilhante que refuga qualquer normalidade de pensamento, extasiado o sujeito prejudicado pela escassez de luz do seu raciocínio, entregou-se ao primeiro murmúrio das senhoritas abandonadas no salão ao lado.
Chega de momices falsas – bradou uma voz rouca. Iniciou-se um burburinho e o primeiro cristal foi ao chão.
Uma queda rápida, um ruído seco e todas as luzes apagadas.
Nenhuma lágrima derramada, nenhum beijo roubado, por enquanto.
A agora perdida indecência pura das mentiras mal contadas gerava um pânico intencional e querido, porém ainda contido, retido voluntariamente no olhar de quem possuía o dom da visão noturna.
Era reter o incontrolável. Era o pânico desejado, volúvel àquele instante, e que se ia cristalizando a cada novo suspiro da respiração já ofegante no grande salão.
As senhoritas ao lado mudaram de local e ninguém mais estava sozinho.
Um sussurro, dois lábios, vários beijos!
Quem, em sã consciência, naquela casta sociedade, poderia imaginar que se iria concretizar uma cena tão dionisticamente bem desenhada?
A fluidez incessante dos encontros carnais era perfeitamente bem quista entre todos ali presentes.
A tradição, sempre imponente, trancafiava os desejos daqueles que se conheciam e se fingiam de distantes perante os costumes seculares.
Nunca, até aquele derradeiro momento tantos corpos se encontraram com tamanho furor, sem nenhum pudor.
Mãos não se fazendo de rogadas e completamente livres de qualquer falso preconceito viajavam por inúmeras curvas e peles.
A orquestra já havia parado de tocar há tempo e se juntara ao monte de carnes esparramados pelo salão... tocavam agora outros instrumentos.
Toda a festa rolou, literalmente, pela noite inteira e o último casal só foi desfeito nos primeiros raios do sol.
Alegre foi a noite onde a diversão imperou dignamente, reificada no anseio de se ver realizados tantos sonhos segredados.
Após o acontecimento nenhum comentário foi feito, era como se nada houvesse acontecido, nada que não fugisse aos padrões normais das festas da alta sociedade.
E desde aquela furtiva e inesquecível noite, não houve, sequer por breves instantes outro blecaute que possibilitasse aos nobres cidadãos a realização de outro esfuziante suruba.
Ensandecida a mente brilhante que refuga qualquer normalidade de pensamento, extasiado o sujeito prejudicado pela escassez de luz do seu raciocínio, entregou-se ao primeiro murmúrio das senhoritas abandonadas no salão ao lado.
Chega de momices falsas – bradou uma voz rouca. Iniciou-se um burburinho e o primeiro cristal foi ao chão.
Uma queda rápida, um ruído seco e todas as luzes apagadas.
Nenhuma lágrima derramada, nenhum beijo roubado, por enquanto.
A agora perdida indecência pura das mentiras mal contadas gerava um pânico intencional e querido, porém ainda contido, retido voluntariamente no olhar de quem possuía o dom da visão noturna.
Era reter o incontrolável. Era o pânico desejado, volúvel àquele instante, e que se ia cristalizando a cada novo suspiro da respiração já ofegante no grande salão.
As senhoritas ao lado mudaram de local e ninguém mais estava sozinho.
Um sussurro, dois lábios, vários beijos!
Quem, em sã consciência, naquela casta sociedade, poderia imaginar que se iria concretizar uma cena tão dionisticamente bem desenhada?
A fluidez incessante dos encontros carnais era perfeitamente bem quista entre todos ali presentes.
A tradição, sempre imponente, trancafiava os desejos daqueles que se conheciam e se fingiam de distantes perante os costumes seculares.
Nunca, até aquele derradeiro momento tantos corpos se encontraram com tamanho furor, sem nenhum pudor.
Mãos não se fazendo de rogadas e completamente livres de qualquer falso preconceito viajavam por inúmeras curvas e peles.
A orquestra já havia parado de tocar há tempo e se juntara ao monte de carnes esparramados pelo salão... tocavam agora outros instrumentos.
Toda a festa rolou, literalmente, pela noite inteira e o último casal só foi desfeito nos primeiros raios do sol.
Alegre foi a noite onde a diversão imperou dignamente, reificada no anseio de se ver realizados tantos sonhos segredados.
Após o acontecimento nenhum comentário foi feito, era como se nada houvesse acontecido, nada que não fugisse aos padrões normais das festas da alta sociedade.
E desde aquela furtiva e inesquecível noite, não houve, sequer por breves instantes outro blecaute que possibilitasse aos nobres cidadãos a realização de outro esfuziante suruba.
3 Comments:
Você, quando novo, gostava dos adjetivos no papel.
Hoje em dia eu acho que prefere os sentimentos.
tenho que concordar com a lara.
e, que fique claro, eu vou fazer um comentário decente aqui.
calma que agora eu tê frenética.
Perfeito..
Como já te disse no MSN..
Impressionante como vc consegue narrar os fatos de modo que conseguimos visualizar com clareza a cena, sem tornar a leitura monótona.
Definitivamente meu poeta preferido!
Bjos :***************
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