quarta-feira, agosto 31, 2005

Desconectividade Insana

O pássaro que descansa no seu ninho não sabe do que é capaz o monstro que dorme na minha sala.
Exploração, dilúvio, morte, descaso.
E o fogo arde em suas entranhas, descobrindo novos caminhos, através de brincadeiras pueris. Entrando em lugares desconhecidos, achando tudo engraçado, porém tristemente embriagado, suavemente endiabrado.
Você morreria por mim? Ninguém morre à toa.

Livre de todos os pecados, pensando em roubar o descanso eterno, eu morreria por alguém.

E tudo é sincero!

O pássaro saiu do ninho. O monstro não domina mais ninguém

quarta-feira, agosto 24, 2005

Carta

Tristanville, 24 de agosto de 2005

Querida Joice,

Estive dias desses num “Mercado de Pulgas” tentando arrumar outra chance para mim. Tentando também encontrar 365 diferentes maneiras originais de lhe entregar uma rosa.
É que o amor não lhe espera deitado numa cama com as mãos enfiadas no bolso da velha surrada calça jeans, fingindo estar de olhos fechados. Ou pode ser exatamente essa a situação e você, sem nada perceber, sorrindo fortuitamente de uma piada sem graça, perde o momento. Acho até mesmo que por um desperdiçado querer.
Às vezes você parece transformar o mundo num lugar onde somente você vive, e apenas sobrevive. Acontece que esse é um mundo criado por outras pessoas e você pode mesmo acabar conseguindo o que planta, mesmo que a colheita seja a solidão. O amor realmente deixa muito a desejar e acaba sendo devastado pela publicidade. E eu fico pensando exatamente como a Kika: “Que tempos malucos são esses em que a sutileza e o torpor de sensações foram substituídos pela pirotecnia de um êxtase fajuto”?
Eu ando me alienando faz um tempo já; estou à deriva num mar de incertezas enquanto você, se esforçando para ser original, acaba vivendo um conto de lugares comuns. Deixe de lado essa desnorteada vontade de ser diferente. O indivíduo é a menor minoria dentro de uma sociedade; e sendo único, já destoa dos demais.
Acho que você também deveria ir a um “Mercado de Pulgas”. Além de tudo o que poderá encontrar por lá, também aprenderá que somos diletantes em tudo o que fazemos na vida. E principalmente no amor. E é exatamente aí que s e encontra o olho do furacão.
Não queira destoar, você acabará sendo igual.

Beijos,

Diego

quarta-feira, agosto 10, 2005

Aroma de dia findado

O dia foi deveras complicado, acordei ainda sonhando. E mesmo sem você ao meu lado, continuei com meus devaneios.
Ainda não estava nada claro, o céu não estava tão azul. Brilho estranhamente opaco e pra ser sincero, nem sei para onde fui.
Era tarde, você havia ido embora e eu nem vi a hora. Perdi cenas do filme, quase não vi parte alguma. Era tarde, perdi o enunciado. Não vi quem falou.
Talvez um engano, um engodo. Talvez tudo esteja por debaixo dos panos. E se alguém falhou?
Quem vai dizer o que aconteceu quando tudo terminar? Quando a água da fonte acabar?
E se ninguém mais se lembrar do dia de ontem?
Quem vai dizer o que se passou quando a rosa murchar e o jardim secar?
Não acredito que se vá deixar a vida cinza desbotado, cor de tudo terminado...

Pegue a senha. Caso não lhe atendam dentro de 15 minutos, comece a gritar.

quinta-feira, agosto 04, 2005

Conversa com os astros.

Acho que todo mundo já teve sua noite de ficar em silêncio fitando o céu, as estrelas, a lua. Cito os três separadamente, pois prezo por admirá-los dessa forma também. E o faço com mais freqüência do que julgava.
Um infinito negro polvilhado de estrelas e uma solitária lua. Mas calma lá. A lua não é solitária. Ela tem a terra. E a terra a tem. As estrelas estão lá para abrilhantar o namoro dessas duas almas. O sol é como aquele pai (ou mãe) inoportuno que fica no pé da filha dizendo que já está na hora do namorado ir embora. A lua, obediente, vai. Mas nem sempre é assim. Por vezes ignorando o fiscal familiar, ela se rebela e se interpõe entre o obstáculo e sua amada, diminuindo a claridade, deixando apenas luzes de velas romantizando o ambiente. E o casal de namorados aproveita cada instante para trocarem chamegos e palavras simples como o amor deveria ser.
A frase “Eu te amo!” deveria ter sabor de chocolate derretido na língua. Mesmo o chocolate meio amargo, adocicado com lábios untados de leite condensado. O amor deveria ser simples como um balde de pipoca dividido dentro de uma sala de cinema.
Admirei o céu noite dessas. Uma estrela me disse essas palavras. Conversamos em silêncio e trocamos confidências. Mas me disse não ser segredo. Disse-me estar apaixonada sem revelar por quem. Ela sente borboletas dançando em sua barriga. Imagina-se sendo cortejada com suores-poemas que escorrem da boca deleitosa de seu galanteador amável.Por vezes deixo uma cadeira ao meu lado e sento-me no chão para conversar com as estrelas. Longas conversas estimuladas pelo silêncio mútuo de quem se entende gratuitamente. Falamos basicamente sobre amor, desenhando pinturas numa tela virgem. Acho que todo mundo já teve sua noite de ficar em silêncio conversando com estrelas. Ultimamente tenho feito isso com mais freqüência.