terça-feira, setembro 27, 2005

Uma nova reticências

Eu não sei o que pode ser feito.
Nem o que não se pode.
Andei levando uns sopapos da vida e acho que perdi o fio da meada.
A amargura, o descaso e a descrença na conciliação de duas almas calejaram-me a ponto de não mais esperançar dias de alegria em par.
Julguei ser o fim de tudo aquilo em que sempre acreditei e que sempre jurei ser eterno.
Como um corte abrupto na linha do tempo.
Morre um. Nasce outro.
Acabei tornando-me ditador de mim mesmo.
Proibindo qualquer mera aproximação.
Retaliando com rigor esmeril qualquer frio na barriga.
Cheguei mesmo a me colocar no paredão de fuzilamento por conta de uma bambeza em minhas pernas.
Nunca me esquecerei desse momento
Mas o que não se espera, surge. Urge!
Minha razão autoritária sofreu golpe de estado.
Fui subjugado por algo que minha sofrida razão, ingenuamente, subestimou.
Um mutirão de sentimentos depôs o regime ditatorial.
Hoje retorno à forma antiga, poética, talvez utópica.
Hoje minhas pernas tremem sem medo.

sábado, setembro 24, 2005

eu sou uma reticência tripolar...

... e o tudo..., bem... o tudo é um conjunto de nadas!

quarta-feira, setembro 21, 2005

Livre arbítrio.

Nossa vida é algo muito pequeno. E ainda mais frágil do que imaginamos. Leva-se tempo para criar e apenas alguns intantes para se extinguir.
Sempre pensei na minha morte. Por vezes eu realmente a desejei... rápida, indolor, tranquila como o fechar dos olhos...
Porém nunca tive coragem de enfrentá-la e dizer “quero agora, e serei eu mesmo a encontrá-lá”. Várias foram as horas em que senti vontade de tirar minha própria existência, acho que por isso mesmo, me calejei e não consigo me assustar com notícias a respeito. É triste. É sim. E eu sou assim mesmo. Não tenho tanta experiência em vida, mas já ando vacinado em certas situações. Talvez você pense em mim como um sujeito frio, isensível, porém veja bem... sou exatamente o contrário.
Há no mundo tanta coisa errada. Há na vida de cada um tanta coisa errada. Todo mundo tem problemas e cada um acha que o seu problema é pior que o de todos e que não há solução. Aí está a solução. Há está o fim de qualquer problema. Um problema impossível de se solucionar deixa de ser problema.
Eu disse anteriormente que não tive coragem de enfrentar a morte. E agora vejo que é exatamente o contrário. Sou corajoso por enfrentar a vida e seus infindáveis problemas. E vou continuar assim enquanto houver força em mim. Enquanto eu puder acordar todas as vezes e dar um simples “bom dia”, enquanto em ver o sol nascer e se pôr. Enquanto eu puder conversar com a lua e as estrelas olhando-as aqui de baixo. Enquanto eu tiver minha família e minhas amizades indestrutíveis. Enquanto eu sentir que amarei e serei amado.

Nossa vida é algo muito pequeno. E é ainda mais frágil do que imaginamos.
Por isso mesmo vou tornar a minha a melhor possível; vou fazer da minha vida algo inesquecível, ao menos para mim, o que já é o mais importante a se fazer.

Nem vou mais escrever nada. Muitas coisas estão fervilhando aqui nessa cabeça irriquieta. Essas palavras foram porque recebi a notícia de que alguém hoje desistiu da vida. Não tive a oportunidade de conhece-lo, mas se tivesse, daria um bom puxão de orelhas nele. Talvez não adiantasse patavina, talvez fizesse diferença. Agora não interessa mais.

Esteja em paz, meu caro. Fique bem.

quinta-feira, setembro 15, 2005

Carta

Tristanville, 15 de setembro de 2005.

Querida Joice,


Eu não tenho a menor idéia sobre o que se passa pela minha cabeça. Tudo parece estar bem e no minuto seguinte não está.
Um tormento tangível retumba feito trovões em minha mente. Encho copos e mais copos de lágrimas incessantes e inexplicavelmente melancólicas.sinto meu coração saltitando ao mesmo tempo em que parece vazio e sombriamente calado. Um festival de tons de cinza perambulam pela minha vistaembaçada, que procura desesperadamente por uma alegria verde.
Minha vida se resume a quatro paredes sem janelas e com apenas uma porta sem chaves. Quatro paredes brancas onde desenhos diversos surgem e desaparecem na mesma velocidade de uma piscadela. Dependendo do desenho tento ao máximo manter meus olhos abertos; ou então pisco tão rápido que alguém poderia pensar ser um cacoete meu.
Será que um sonho, depois de sonhado, acomodará mudanças na vida do sonhoador? Penso que se não... o sonho não terá valido à pena. Mas não terá sido perca de tempo também.
Tudo pode se resumir nas escolhas que fazemos. E eu escolhi não buscar uma ilusão externa a mim mesmo, pois a escolha de outrem ou do sobrenatural é sempre enfraquecedora e sempre me torna menos do que sou. E eu amo tudo aquilo que me torna mais do que sou.
Mas eu não tenho a menor idéia sobre o que se passa pela minha cabeça. Porém tenho aprendido que uma vida mentirosa é uma morte viva e que a morte perde seu terror quando se morre depois consumida a própria vida.
Eu me sinto imóvel nos bastidores de uma cena inacabada. Perdido entre diálogos de uma peça mal escrita.
Tudo é ainda agradavelmente fervoroso para mim, porém a magia do desconhecido consome uma parte considerável de mim. Tudo parece estar bem e no minuto seguinte não está.
Então eu simplesmente fecho as cortinas de uma janela inexistente.

Beijos,

Diego

segunda-feira, setembro 12, 2005

Indiferença

nas ruas as pessoas apressadas
sozinhas no meio de tanta gente
talvez não se lembrem
que tudo um dia vai passar
não basta apenas fechar os olhos
não basta apenas fingir que tudo está bem
os anjos que estão ao meu redor
estão ao seu lado também
se você tem uma chance de fazer tudo diferente
não se acanhe, vá em frente
você consegue, não vai se arrepender
veja as pessoas apressadas
elas estão sozinhas no meio de tanta gente
e ninguém mais se surpreende
quando vê alguém caído no chão
um ser invisível no meio da multidão
um ser humano, um ser como a gente
tratado como lixo, pobre indigente
e eu te peço pra não chorar
isso não vai adiantar
a gente tem mais o que fazer
não basta fechar os olhos,
não basta fingir que está tudo bem
os anjos que estão ao meu redor
estão ao seu lado também
e se você quer saber
não dá mais pra ficar parado
achando que tudo vai passar, vai melhorar
nada vai cair do céu se você não se mexer

sexta-feira, setembro 02, 2005

Festa da nobreza (Abílio Queiroz - 12/06/1991)

Perdida agora a indecência pura das mentiras mal contadas, fez-se do fogo eloqüente da vela, que teima em queimar, o brilho solitário da sala de jantar.
Ensandecida a mente brilhante que refuga qualquer normalidade de pensamento, extasiado o sujeito prejudicado pela escassez de luz do seu raciocínio, entregou-se ao primeiro murmúrio das senhoritas abandonadas no salão ao lado.
Chega de momices falsas – bradou uma voz rouca. Iniciou-se um burburinho e o primeiro cristal foi ao chão.
Uma queda rápida, um ruído seco e todas as luzes apagadas.
Nenhuma lágrima derramada, nenhum beijo roubado, por enquanto.
A agora perdida indecência pura das mentiras mal contadas gerava um pânico intencional e querido, porém ainda contido, retido voluntariamente no olhar de quem possuía o dom da visão noturna.
Era reter o incontrolável. Era o pânico desejado, volúvel àquele instante, e que se ia cristalizando a cada novo suspiro da respiração já ofegante no grande salão.
As senhoritas ao lado mudaram de local e ninguém mais estava sozinho.
Um sussurro, dois lábios, vários beijos!
Quem, em sã consciência, naquela casta sociedade, poderia imaginar que se iria concretizar uma cena tão dionisticamente bem desenhada?
A fluidez incessante dos encontros carnais era perfeitamente bem quista entre todos ali presentes.
A tradição, sempre imponente, trancafiava os desejos daqueles que se conheciam e se fingiam de distantes perante os costumes seculares.
Nunca, até aquele derradeiro momento tantos corpos se encontraram com tamanho furor, sem nenhum pudor.
Mãos não se fazendo de rogadas e completamente livres de qualquer falso preconceito viajavam por inúmeras curvas e peles.
A orquestra já havia parado de tocar há tempo e se juntara ao monte de carnes esparramados pelo salão... tocavam agora outros instrumentos.
Toda a festa rolou, literalmente, pela noite inteira e o último casal só foi desfeito nos primeiros raios do sol.
Alegre foi a noite onde a diversão imperou dignamente, reificada no anseio de se ver realizados tantos sonhos segredados.
Após o acontecimento nenhum comentário foi feito, era como se nada houvesse acontecido, nada que não fugisse aos padrões normais das festas da alta sociedade.
E desde aquela furtiva e inesquecível noite, não houve, sequer por breves instantes outro blecaute que possibilitasse aos nobres cidadãos a realização de outro esfuziante suruba.